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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Aprender a ouvir - praticando a 'escutatória' - (Rubem Alves - Filósofo e Educador)

Bonito magrão ! É isso mesmo. Por essa e outras , Freud criou a psicanalise.  As pessoas necessitam falar e , principalmente , serem ouvidas.  MAS, quem iria ouvi-las ? Ouvir é uma arte . Falar sozinho, é fácil, mas ser ouvido é muito gratificante para o orador. Então os psicanalistas cobram para ouvir ! O termo médico para escutatoria é mais pomposo. É auscultar ! Fazemos a ausculta : pulmonar, cardíaca, abdominal, etc...a fim de ouvir os sons das visceras.  Mas também auscultamos o que o paciente tem a falar. 

Ah, Fernando Pessoa...
Aprender a ouvir – praticando a ‘escutatória’ - (Rubem Alves – Filósofo e Educador)
 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGebPFDiMvKgomG8GJSD1TFeGVCq3ki8wtTWsc6Ktb0rCJgLwPAc4dTPmsR0aTOzlP5m6JeJH4aKidggJQIDbvVJKR4EFWRGfD_a0Efr8VvAogFaZeThZrZ12cWrFBhzjxXeqJNRcFysRd/s320/3-macacos.jpg
 
 Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
 
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade: A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
 
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulados pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.
 
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos... Pensamentos que ele julgava essenciais.
 
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
 
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
 
 Na verdade, não ouvi o que você falou.
 
 Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
 
Falo como se você não tivesse falado.
 
 Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
 
É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
 
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo àquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
 
 Eu comecei a ouvir.
 
Fernando Pessoa conhecia a experiência...
 
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
 
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
 
 No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
 
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
 
Que de tão linda nos faz chorar.
 
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
 
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

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